No último sábado (16/02)
iniciamos a circulação da quarta etapa do projeto com pesquisa de campo em
Sobrado e foi muito gratificante saber através do diretor de cultura municipal
e nosso guia – Edno Luna, que o município detém representações de crocheteiras,
cordelistas, compositores, desenhistas e jovens poetas. Mas a cereja do bolo se
mostrou depois do bate-papo e cruzamento de informações que a Cia já detinha da
existência de bonequeiro pela região ainda não identificado em nossas
pesquisas.
Foi aí que o também
multi artista (músico, cordelista, compositor, xilo gravurista, professor...) e
nosso guru Edno Luna nos confidenciou que na zona rural próxima à cidade
existiu tempos atrás um bonequeiro que tinha deixado de brincar babau, mas
ainda mantinha seus bonecos guardados. Benedito e João Redondo tavam se
tremendo dentro da mala só em pensar em conhecer mais bonecos e brincantes do
babau da Paraíba. Depois de rápida articulação seguimos rumo à comunidade Barra de Antas
que, territorialmente, já pertence ao município vizinho de Sapé.
Logo ali, depois do
cemitério e praticamente às margens do Rio Gurinhém, chegamos à casa de José
Targino dos Santos, popularmente conhecido por ‘Zé de Puiga’ ou ‘Puiguinha’ que
do alto dos seus 62 anos de vida ainda esbanja vigor e compartilhou conosco
memórias de trinta anos atrás quando conheceu o babau e foi aprendiz do
memorável Antônio do Babau da cidade de Mari.
E mais, não era só um não
minha gente, era uma dupla de dois! Isso mesmo, Seu José brincava e era
ajudante do seu primo Cassiano, juntos formaram a dupla de brincantes ‘Cassiano
e Zé de Puiga’ que atuou durante anos nas comunidades circunvizinhas, com
bonecos confeccionados por eles e doados pelo mestre Antônio do Babau.
Sua esposa no canto do
terraço nos confidenciou: “era tanta da
gente pra assisti meu fi! e fazia a gente ri dimai”. Sem contar que o babau
deles era revolucionário, pois décadas atrás já usava som, microfone e
transformador pra transmitir via rádio FM pras cidades vizinhas a brincadeira
que acontecia nas comunidades rurais de Riachão, Areia Vermelha e Anta dos Anjos.
Mas Seu José, por que esse
nome? – pergunta a coordenadora e pesquisadora Amanda Viana. Ele responde: “Meu
pai vendia ‘detefon’ pra matar insetos e pulgas, eu o acompanhava, daí a
comunidade passou a me chamar de Puiguinha e depois que cresci virei Zé de
Puiga”. E todos na sala caíram na risada! Hehehehehhh
Durante anos, com a mudança
de Cassiano para outro estado, Seu José que só brincava com o primo,
desmotivou, vendeu o som e guardou os bonecos na mala. Porém, a boa notícia é
que recentemente o primo voltou a morar no estado, mais próximo, e tem planos
de voltar a viver na comunidade. Convites surgiram e fomos conhecer os bonecos
pendurados num varal do sítio de um amigo que estava retocando as pinturas em tinta
a óleo na madeira de mulungu.
Conhecemos seus bonecos
Benedito, João Redondo, Quitéria, Zé Moreno, Capeta, Seu Banha, Rosane e duas
relíquias confeccionadas por Mestre Antônio do Babau. Para nós um bom sinal de
que a brincadeira pode retomar a qualquer momento, principalmente depois da
articulação com a gestão local e injeção de ânimo deixado com a passagem do
projeto por lá.
Equipe Boca de Cena, Edno e Zé de Puiga |
Retornamos à cidade pelas
trilhas das ciriguelas e mangas, paramos em frente ao prédio público onde o
Diretor de Cultura Edno Luna e a Secretária de Cultura Claudine Coelho nos
confidenciaram que há uma expectativa enorme da gestão e população para a
inauguração e ampliação do projeto da Casa de Cultura, que pretende ocupar um
casario histórico do município para acolhimento de jovens talentos, preservação
e divulgação da cultura local através de espaços como a Casa da Memória, Clube
de Leitura e Escola de Música.
Admiramos a igreja matriz de
São João Batista (patrimônio histórico estadual), como também o simpático e
preservado casario, com casa antiga de reforma datada de 1896. Também avistamos o ponto alto da colina onde existiu um sobrado que foi referência
para viajantes séculos atrás e deu origem ao nome da cidade. O clima é que se
manteve instável e por segurança nos fez ocupar o Ginásio Joaquim Braz.
Igreja Matriz - patrimônio histórico estadual |
A noite caiu, o convidado
especial chegou e estava tudo pronto para ofertar à população o que há de
melhor no teatro de bonecos popular da Paraíba. Após a missa o público
preencheu os espaços, o Mestre Clébio iniciou a noitada de espetáculos com seus
bonecos ventríloquos e depois a Cia Boca de Cena apresentou o ‘Tem Boi no
Algodão’. Foi a coroação de um belo início de circulação que contou com apoio e
presença de amigos, gestão municipal e articuladores culturais estaduais que
durante e após as ações, se reuniu e confabulou bastante sobre as
possibilidades de impulsionar os projetos da cidade durante coquetel de
encerramento na Casa da Cultura. Somos ativistas!
Mestre Clébio e seus bonecos ventríloquos |
Deixamos aqui nosso
agradecimento especial ao apoio cultural recebido da Prefeitura Municipal de Sobrado. E
como já sabemos isso foi só o começo minha gente. A circulação continua e ainda
esta semana ocuparemos as ruas de Pedras de Fogo. Já no próximo sábado
(23/02/2019), às 16h30, no Parque Ecológico Padre Sílvio Milanez, haverá a participação especial do Grupo Babaulengo da cidade com o
espetáculo 'Viver, Sorrir e Brincar'.
No domingo (24/02/2019) a
nossa equipe fará o trabalho de pesquisa de campo com registros de bonequeiros
locais durante o dia e no fim da tarde apresentaremos o espetáculo ‘Colcha de Retalhos’ de
forma gratuita, no mesmo local e horário do evento no dia anterior, para todos que comparecerem.
Este projeto foi selecionado
no Edital 2018 Culturas Populares – Edição Selma do Coco. Trata-se de uma
realização da Cia Boca de Cena com patrocínio do extinto Ministério da Cultura,
através da Secretaria da Diversidade Cultural e contará com o apoio cultural da
Prefeitura Municipal de Pedras de Fogo no próximo final de semana.
Programem-se para os dois dias de eventos e compareçam! |
Grupo Babaulengo que irá se apresentar na cidade |
Agradecimentos finais ao público |
E o babau não pode
parar! Deixamos com vocês uma frase do brincante Zé de Puiga: “Se a gente botá um pedaço de pau na mão e
soubé falá, todo mundo ri”. Até breve pessoal!
Casario antigo |
Gestões municipal e estadual com Cia Boca de Cena |
Amigos Bira e Fabiana vieram da capital nos prestigiar |
Admirando paisagem às margens do Rio Gurinhém |
Obrigada!! Sobrado sempre está a disposição e agradece de coração pelo belíssimo projeto que não pode se perder no tempo!!CIA TEATRO BOCA DE CENA grande incentivadores da cultura popular!!
ResponderExcluirAbraços
Claudine Coelho
Secretaria de Cultura
Sobrado,PB