A brincadeira parou e pela demora
do intervalo do espetáculo, o público cansado de esperar começou a ‘cobrar’ a
volta dos bonecos em cena. O menino assustado com tudo aquilo tomou uma atitude
corajosa: segurou os bonecos nas mãos e deu prosseguimento ao espetáculo. A voz
trêmula, os atos ainda não totalmente decorados, não emitia os timbres
diferentes das personagens... Nada saía em total conformidade ou perfeição, mas
o importante é que o sentimento de que a brincadeira não podia parar
sobressaltou a qualquer imprevisto com muito improviso e emoção, pois na medida
em que o público se empolgava com a volta dos bonecos e sua encenação, o menino
por trás da empanada foi gostando e desenrolou toda a narrativa até o final.
Em 2002 faleceu o grande mestre
Joaquim Guedes (Joaquim do Babau), a tristeza e mágoa tomou conta do coração e
da vida do menino que guardou todos os bonecos na mala e deixou lá intacta como
um tesouro, uma herança pra toda a vida de pai pra filho. Não havia ânimo para
brincar: ‘Esses bonecos eu não vendo, não dôo nem me desfaço deles até o fim da
minha vida’ – dizia Vavau.
O tempo foi passando e as pessoas
começaram a cobrar do jovem que a brincadeira voltasse. Com o apoio da família
e outros segmentos da cultura local, ele venceu a timidez e foi convencido a se
apresentar. Na rua não havia ninguém, mesmo assim, Benedito e João Redondo apareceram
em cima da empanada, brincaram e pelo buraquinho furado na tenda, pouco tempo
depois do início do espetáculo, os olhos do brincante Vavau assistiram ao
milagre da multiplicação: a rua estava lotada!
Aplausos, sorrisos, alegria,
magia... Aquele momento encantou e conquistou em definitivo o filho de Joaquim
do Babau que desde então decidiu preservar a arte da brincadeira do babau como
legado deixado por seu pai.
Mas imprevistos acontecem e o
mundo dá voltas. Os bonecos voltaram à mala e permaneceram lá bem guardados e preservados
por quase um ano. Oportunidades e abertura para apresentações eram raridade
agora. Porém, nessas voltas que o mundo dá, o ano de 2013 reservou a aprovação
do projeto ‘Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade’ proposto pela Cia
Boca de Cena que veio resgatar a prática dessa cultura milenar e trazê-la de
volta aos espaços públicos, acessível a todos.
E a melhor surpresa foi constatar
que aquilo que aparentemente estava adormecido, na verdade se manteve
preservado na memória dos mais velhos, na curiosidade dos adultos, jovens e
adolescentes que só tinham ouvido falar, além do olhar maravilhado de crianças
que sequer tiveram contato um dia com a arte do babau.
Realizar o encerramento deste
projetaço em João Pessoa foi quase reportar a equipe de produção da Cia Boca de
Cena a um êxtase sem explicação. O fazer acontecer apresentações do teatro de
bonecos popular contemporâneo junto ao babau tradicional e sendo assistidos por
amigos, familiares, colegas de trabalho e estrada no mesmo espaço/tempo foi
simplesmente esplêndido.
Acreditamos que não poderia haver
um final melhor do que aquele vivenciado no último domingo (21/04) por todos os
presentes. Nossa gratidão desde São Pedro até as muriçocas que circulavam
intensamente a Pracinha dos Brinquedos. Além disto, um muito obrigado especialíssimo
aos patrocinadores na representação da FUNARTE, Ministério da Cultura – MINC e
Governo Federal, como também os apoiadores culturais locais representantes da
Prefeitura Municipal de João Pessoa (através da FUNJOPE) e a todos incontáveis
colaboradores diretos e indiretos que nos acompanharam pelos oito municípios em
toda a temporada de circulação.
O babau ainda pulsa e vive.
Beleza pura! Mas nessa história o final é reticente, continua [...]
Empanadas: tradicional e contemporâneo juntos |
Depois de quase um ano a mala se abre e os bonecos vão se apresentar |
Platéia mirim ocupando todos os lugares da Pracinha dos Brinquedos |
Benedito aprontando com o padre |
Humberto Dias e família na platéia |
Público superlota o local do evento |
Equipe de produção reunida ao final |
Representação dos muitos amigos presentes |
Entrevista com o Mestre Vavau |
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