Colaboradores

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Só sei que foi assim: Benedito e João Redondo cheios de paparicos e descobertas de um povo milagreiro no ramo da cultura e das artes em Taperoá

Adentramos aos portais de um ‘Reino do Cariri’ repleto de cantos, contos e encantos no finzinho da manhã do último sábado (28/09). Ficamos alojados num hotel que recebe o nome de um famoso romance do cidadão ilustre taperoense Ariano Suassuna – ‘Pedra de Reino’.
Como de praxe, realizamos a reunião de produção e recarregamos as baterias para uma noite que só mais tarde identificaríamos como INÉDITA na cidade!
À tardinha já verificamos cartazes de divulgação espalhados pela cidade, faixa no local do evento e um público curioso abordando os integrantes da equipe durante os preparativos para a grande noite de estreia. Antes disso, fizemos registros de casarios antigos e bem preservados da cidade, identificamos cenários de filmes e minisséries, além de um pôr do sol sertanejo fantástico.
Vista do pôr do sol em frente à Praça de Eventos João Suassuna

Mais uma vez o nosso convidado Mestre Clóvis de Guarabira surpreendeu e agradou a todos que marcaram presença com sua brincadeira do babau tradicional. Era nítido o encantamento e interação de crianças, jovens, velhos e adultos com as personagens apresentadas por cima de empanada. Nesta mesma noite, ficamos maravilhados com a satisfação do público local, principalmente, pelo fato de sabermos do ineditismo da prática do teatro de bonecos popular em Taperoá.
Apesar dos bonecos serem utilizados como apoio pedagógico pelos educadores em instituições locais, não houve confirmação da prática do teatro de bonecos enquanto manifestação cultural e artística. A equipe da Cia Boca de Cena sente-se orgulhosa em poder apresentar este bem imaterial através do projeto ‘Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade’ e, ainda mais, em lugares nunca dantes brincados.
Apresentação do babau do mestre Clóvis ao público taperoense

O domingo amanheceu e nossa equipe partiu para a pesquisa de campo e captação de imagens e depoimentos para o documentário do projeto. Em nosso diário de campo identificamos o adormecimento de algumas manifestações culturais como as tradicionais “Cambindas de Taperoá” uma dança típica da cidade, que após a morte de seu Mestre e a dificuldade de manutenção e diálogo com o poder público está cada vez mais difícil de ver, além do descobrimento da prática do boi, papangus, projetos sociais e personagens que são verdadeiros tesouros para as artes e a cultura local.
Começamos com o nosso guia cultural – o jovem e atuante Tiago Evangelista Bernardo que nos contou sobre locais e fatos históricos da cidade, apresentando-nos a “Ponte Velha” que já foi primeira entrada principal da cidade e atualmente é o local das conspirações culturais da juventude, onde eles se reúnem, promovem eventos, articulam desenvolvimentos de novos projetos e fomentam a revitalização e restauração da Ponte, símbolo histórico do povo taperoense.
Logomarca do Movimento 'Ponte de Cultura' e bastidores das gravações com Tiago Bernardo

Junto com a Secretária de Cultura do Município, Renata Pimenta, iniciamos a aventura de encontrar personagens marcantes para nossos registros. Fomos então à procura do Mestre do Boi, a quem não o encontramos, mas sua filha veio nos recepcionar, uma figura animadíssima que nos falou das brincadeiras do boi, do papangu e do mela-mela nos festejos carnavalescos. Ah! E Lúcia de Fátima e Sousa também nos mostrou toda sua fluência no inglês!
Passamos pelas ruínas do monumento e portal ‘A Pedra do Reino’, além da Igreja Matriz da cidade antes de chegar ao próximo set de filmagens – a simpática bodega do Seu Martinho Silvério de Farias, um artista nato que, mesmo com sua idade avançada e suas limitações de visão e respiratórias, tocou sua antiquíssima sanfona de oito baixos e cantou pra nossa equipe que suspirou emocionada. Fabrizzio, nosso produtor, que estuda a sanfona não se conteve ao tocar nas mãos daquele grande Mestre sanfoneiro, primo de outro grande artista o Abdias de Taperoá.
Seu Martinho e sua sanfona de oito baixos recebendo a visita de nossa equipe

Nossa última parada antes da apresentação noturna foi na zona rural do município, onde visitamos um espaço multicultural e surpreendente chamado Sítio Mãe Liquinha. O professor, sociólogo e filósofo Ivandro Vilar nos recebeu com tanta simpatia, pompa e circunstância que quase não voltamos para o hotel.
A experiência de conhecer este espaço que foi todo construído ao modo de seu proprietário e que reúne uma síntese de muitas coisas de suas vivências pelo Brasil e outros países como Roma e Bélgica foi singular. Um sítio que em cada ambiente reúne esculturas, pinturas, artesanato, fotografias, objetos e é cercado pela natureza encantadora do cariri paraibano, lindo de se ver!
Ivandro Vilar, Renata Pimenta e nossa equipe no Sítio Mãe Liquinha

Além disto, o cidadão taperoense que carinhosamente chamamos de ‘Seu Ivan’, trouxe de suas andanças e experiências profissionais pelo mundo a ideia de confluência entre os poderes públicos e parceiros do ramo cultural para desenvolver um projeto social que leva ações pontuais de música, dança, teatro e artes plásticas para todos e de forma gratuita. Declarou para nossa equipe que a prioridade é o público infantil, por enfrentar muitas dificuldades de acesso à educação de qualidade nas localidades em que vivem e acha que a arte é um milagre para curar suas carências e quem sabe transformar as realidades futuras deles.
Despedimos-nos e logo a noite caiu. Com ela a equipe de produção da Cia Boca de Cena se empenhou em carregar os bancos da igrejinha, pois a expectativa era de que o público fosse grande e as cadeiras reservadas para apresentação não fossem suficientes. Depois de tamanho sacrifício, ajoelhamos e rezamos a ‘São Benedito e João Redondo’ – santos de todas as brincadeiras possíveis, para nos agraciar com uma noite de espetáculo grandiosa.
Ora e labora equipe Boca de Cena

E não poderia ser diferente. Faltou assento para o grande público que lotou a Praça de Eventos João Suassuna para conferir o espetáculo ‘Colcha de Retalhos’ da Cia Boca de Cena. Mais uma vez o Coelho Banzé, Menino Tuca, Anita, Cachorro Totó e todas outras personagens deram um banho de alegria ao público que vibrou com a passagem do projeto por lá.
Agradecemos ao importante patrocínio do Governo do Estado da Paraíba através da Secretaria de Estado da Cultura, além do apoio cultural da Prefeitura Municipal de Taperoá através dos representantes que nos deram total apoio ao desempenho de nossas atividades na cidade, ao mestre Clóvis, além das pessoas incríveis que engrandeceram ainda mais nossa estadia em Taperoá. Todos da equipe de produção da Cia Boca de Cena (realizadora deste projeto) estão imensamente gratos!

Texto - Anderson Santana
Revisão Pedagógica - Amanda Viana

Grande público na segunda noite de espetáculos com a Cia Boca de Cena

Nosso Diretor Geral Artur Leonardo nos ajustes finais para o espetáculo 'Colcha de Retalhos'

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