Adentramos aos portais de um
‘Reino do Cariri’ repleto de cantos, contos e encantos no finzinho da manhã do
último sábado (28/09). Ficamos alojados num hotel que recebe o nome de um
famoso romance do cidadão ilustre taperoense Ariano Suassuna – ‘Pedra de
Reino’.
Como de praxe, realizamos a
reunião de produção e recarregamos as baterias para uma noite que só mais tarde
identificaríamos como INÉDITA na cidade!
À tardinha já verificamos
cartazes de divulgação espalhados pela cidade, faixa no local do evento e um
público curioso abordando os integrantes da equipe durante os preparativos para
a grande noite de estreia. Antes disso, fizemos registros de casarios antigos e
bem preservados da cidade, identificamos cenários de filmes e minisséries, além
de um pôr do sol sertanejo fantástico.
Vista do pôr do sol em frente à Praça de Eventos João Suassuna |
Mais uma vez o nosso convidado
Mestre Clóvis de Guarabira surpreendeu e agradou a todos que marcaram presença com
sua brincadeira do babau tradicional. Era nítido o encantamento e interação de
crianças, jovens, velhos e adultos com as personagens apresentadas por cima de
empanada. Nesta mesma noite, ficamos maravilhados com a satisfação do público
local, principalmente, pelo fato de sabermos do ineditismo da prática do teatro
de bonecos popular em Taperoá.
Apesar dos bonecos serem
utilizados como apoio pedagógico pelos educadores em instituições locais, não
houve confirmação da prática do teatro de bonecos enquanto manifestação
cultural e artística. A equipe da Cia Boca de Cena sente-se orgulhosa em poder
apresentar este bem imaterial através do projeto ‘Benedito e João Redondo pelas
ruas da cidade’ e, ainda mais, em lugares nunca dantes brincados.
Apresentação do babau do mestre Clóvis ao público taperoense |
O domingo amanheceu e nossa equipe
partiu para a pesquisa de campo e captação de imagens e depoimentos para o
documentário do projeto. Em nosso diário de campo identificamos o adormecimento
de algumas manifestações culturais como as tradicionais “Cambindas de Taperoá”
uma dança típica da cidade, que após a morte de seu Mestre e a dificuldade de
manutenção e diálogo com o poder público está cada vez mais difícil de ver, além
do descobrimento da prática do boi, papangus, projetos sociais e personagens
que são verdadeiros tesouros para as artes e a cultura local.
Começamos com o nosso guia
cultural – o jovem e atuante Tiago Evangelista Bernardo que nos contou sobre
locais e fatos históricos da cidade, apresentando-nos a “Ponte Velha” que já
foi primeira entrada principal da cidade e atualmente é o local das
conspirações culturais da juventude, onde eles se reúnem, promovem eventos,
articulam desenvolvimentos de novos projetos e fomentam a revitalização e
restauração da Ponte, símbolo histórico do povo taperoense.
Logomarca do Movimento 'Ponte de Cultura' e bastidores das gravações com Tiago Bernardo |
Junto com a Secretária de Cultura
do Município, Renata Pimenta, iniciamos a aventura de encontrar personagens
marcantes para nossos registros. Fomos então à procura do Mestre do Boi, a quem
não o encontramos, mas sua filha veio nos recepcionar, uma figura animadíssima
que nos falou das brincadeiras do boi, do papangu e do mela-mela nos festejos
carnavalescos. Ah! E Lúcia de Fátima e Sousa também nos mostrou toda sua
fluência no inglês!
Passamos pelas ruínas do
monumento e portal ‘A Pedra do Reino’, além da Igreja Matriz da cidade antes de
chegar ao próximo set de filmagens – a simpática bodega do Seu Martinho Silvério
de Farias, um artista nato que, mesmo com sua idade avançada e suas limitações
de visão e respiratórias, tocou sua antiquíssima sanfona de oito baixos e
cantou pra nossa equipe que suspirou emocionada. Fabrizzio, nosso produtor, que
estuda a sanfona não se conteve ao tocar nas mãos daquele grande Mestre
sanfoneiro, primo de outro grande artista o Abdias de Taperoá.
Seu Martinho e sua sanfona de oito baixos recebendo a visita de nossa equipe |
Nossa última parada antes da
apresentação noturna foi na zona rural do município, onde visitamos um espaço
multicultural e surpreendente chamado Sítio Mãe Liquinha. O professor,
sociólogo e filósofo Ivandro Vilar nos recebeu com tanta simpatia, pompa e
circunstância que quase não voltamos para o hotel.
A experiência de conhecer este
espaço que foi todo construído ao modo de seu proprietário e que reúne uma
síntese de muitas coisas de suas vivências pelo Brasil e outros países como
Roma e Bélgica foi singular. Um sítio que em cada ambiente reúne esculturas,
pinturas, artesanato, fotografias, objetos e é cercado pela natureza
encantadora do cariri paraibano, lindo de se ver!
Ivandro Vilar, Renata Pimenta e nossa equipe no Sítio Mãe Liquinha |
Além disto, o cidadão taperoense
que carinhosamente chamamos de ‘Seu Ivan’, trouxe de suas andanças e
experiências profissionais pelo mundo a ideia de confluência entre os poderes
públicos e parceiros do ramo cultural para desenvolver um projeto social que
leva ações pontuais de música, dança, teatro e artes plásticas para todos e de
forma gratuita. Declarou para nossa equipe que a prioridade é o público
infantil, por enfrentar muitas dificuldades de acesso à educação de qualidade
nas localidades em que vivem e acha que a arte é um milagre para curar suas
carências e quem sabe transformar as realidades futuras deles.
Despedimos-nos e logo a noite
caiu. Com ela a equipe de produção da Cia Boca de Cena se empenhou em carregar
os bancos da igrejinha, pois a expectativa era de que o público fosse grande e
as cadeiras reservadas para apresentação não fossem suficientes. Depois de
tamanho sacrifício, ajoelhamos e rezamos a ‘São Benedito e João Redondo’ – santos
de todas as brincadeiras possíveis, para nos agraciar com uma noite de
espetáculo grandiosa.
Ora e labora equipe Boca de Cena |
E não poderia ser diferente.
Faltou assento para o grande público que lotou a Praça de Eventos João Suassuna
para conferir o espetáculo ‘Colcha de Retalhos’ da Cia Boca de Cena. Mais uma
vez o Coelho Banzé, Menino Tuca, Anita, Cachorro Totó e todas outras
personagens deram um banho de alegria ao público que vibrou com a passagem do
projeto por lá.
Agradecemos ao importante
patrocínio do Governo do Estado da Paraíba através da Secretaria de Estado da
Cultura, além do apoio cultural da Prefeitura Municipal de Taperoá através dos
representantes que nos deram total apoio ao desempenho de nossas atividades na
cidade, ao mestre Clóvis, além das pessoas incríveis que engrandeceram ainda
mais nossa estadia em Taperoá. Todos da equipe de produção da Cia Boca de Cena
(realizadora deste projeto) estão imensamente gratos!
Texto - Anderson Santana
Revisão Pedagógica - Amanda Viana
Texto - Anderson Santana
Revisão Pedagógica - Amanda Viana
Grande público na segunda noite de espetáculos com a Cia Boca de Cena |
Nosso Diretor Geral Artur Leonardo nos ajustes finais para o espetáculo 'Colcha de Retalhos' |
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