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que descemos da van em solo Juazeirinhense fomos recepcionados por
representantes da gestão pública municipal que nos desejaram as boas vindas. O
clima era de festa pela nossa chegada e para os preparativos de comemoração do
centenário da cidade. E nós da Cia Boca de Cena junto com Benedito e João
Redondo chegamos para antecipar à população local que a festança ia ser boa.
À
tarde, reunimo-nos com o Secretário Municipal de Cultura e Comunicação: Antônio
Batista de Lima Neto – popularmente conhecido como Toca, o Vice Prefeito do
Município – Jonilton Fernandes e alguns ‘anjos’ da educação e cultura para
apresentar o que é o projeto Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade e
definirmos os registros que faríamos da cultura popular local no dia posterior.
Aproveitamos
o ensejo e entrevistamos o Secretário de Cultura e a professora Kátia Souza,
duas histórias de vida e envolvimento com a cultura e as artes muito bonitas: a
dele que começou desde pequeno mobilizando a criançada amiga para encenarem o
que assistiam nos filmes de cangaço, passando pela banda da polícia militar e
mobilizações sociais até levantar de vez a bandeira em favor da cultura popular
ao se tornar um gestor cultural. A dela, mesmo depois de muitas andanças Brasil
afora, sentia era falta do ‘seu lugar’, de suas raízes, onde hoje repassa e
aviva esse sentimento na vida das crianças a quem educa – ‘Tenho um orgulho
doente de falar oxente’.
Saímos
em direção à Praça São José, local das apresentações, para os preparativos do
espetáculo da primeira noite. E que noite! Com a presença marcante de um
público significativo, o brincante Vavau até se emocionou. A brincadeira do
babau foi linda e o público vibrou com Benedito, João Redondo e demais
personagens. Até seu Josué com seus mais de 70 anos de idade, parou o
atendimento na sua barraquinha de tiro ao alvo pra espiar o teatro de bonecos
popular do qual se lembrava de ter visto há muitos anos atrás.
O
domingo clareou nublado no Seridó e, bem cedinho, nossa equipe já se aprontava
pra enfrentar uma maratona cultural. Isso mesmo gente, no dia anterior
identificamos tanta manifestação de cultura popular na cidade que foi até difícil
selecionar aquelas que iríamos registrar.
E
haja memória para tanta gravação nos equipamentos do nosso diretor de
audiovisual Lúcio César! Começamos com seu Fernando Clemente, vaqueiro aboiador
da cidade, passando pelo Pastoril com um grupo de senhoras simpaticíssimas, o
trio de forró Filhos do Chamego, a Filarmônica de São José tocando frevo e
arrastando as Virgens do Amém mais badaladas da cidade: Janaína e Pit Bicha, a
Cia de Danças Populares de Juazeirinho com seu xaxado, Felipe de Oliveira – o sanfoneiro
aprendiz e, por fim, aquela que iria naturalmente revigorar o cansaço da nossa
equipe, Dona Luzia.
Deixamos
o Centro Cultural Joana Gago (local de reunião para as gravações do
documentário) e seguimos rumo à casa de dona Luzia Inácia da Conceição,
agricultora aposentada com 94 anos de idade, muito fôlego de vida pra colocar
homem pra correr, mas acima de toda lucidez e vigor físico, uma lenda viva e
histórica da cidade.
Descobrimos,
ainda no dia anterior, que Juazeirinho, décadas atrás, era conhecida como a
cidade da pipoca na Paraíba. E sabem o por quê? Existia um método artesanal de
confeccionar a pipoca de milho característico da cidade, em nenhum outro lugar
se fabricava ‘a pipoca na areia quente’.
E
dona Luzia foi uma dessas pipoqueiras artesanais de Juazeirinho que pra
aumentar a renda da família colocava sua panela de barro no fogo a lenha,
jogava a areia fina, limpa e branca que vinha de fora, ao esquentar jogava o
milho lá dentro e a temperatura fazia com que pipocassem os grãos, depois retirava
a pipoca, peneirava e ensacava para vender na cidade vizinha e as margens da
rodovia que corta Juazeirinho. E há quem diga que ninguém nunca mastigou um
granulo de areia sequer dessa pipoca viu!
Saibam
também que Juazeirinho é a cidade natal de um componente de nossa equipe, o
José Valério – diretor de palco da Cia Boca de Cena. Como não poderia deixar de
ser, fomos conhecer a zona rural da cidade a fim de encontrar seus parentes.
Fomos muito bem recebidos e com um banquete caseiro à nossa espera, um início
de tarde maravilhoso e divertido no Sítio Mendonça.
Tornamos
à cidade e no fim da tarde enquanto preparávamos os equipamentos e a empanada
da Cia Boca de Cena para o espetáculo Colcha de Retalhos: chuva! Constatamos o
ditado que diz: ‘por onde bonequeiro passa faz chover’.
Foi
chuva dos céus para molhar as terras e refrescar a vida difícil dos sertanejos
chegando a encher os barreiros (reservatórios de água) do Sítio Mendonça e
chuva de gente que encheu a Praça São José pra ver Teatro de Bonecos. Obtivemos
na noite do domingo em Juazeirinho, o maior público já registrado nesta segunda
etapa do projeto Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade – de um canto a
outro. E como não podia deixar de ser: maravilhoso!
Pelo
patrocínio do Governo do Estado da Paraíba através da Secretaria de Estado da
Cultura, apoio cultural da Prefeitura Municipal de Juazeirinho e Rádio
Juazeirinho FM, nosso muito obrigado de todos que compõem a Cia Boca de Cena
(realizadora deste projeto) por proporcionar tamanha satisfação em descobrir a
cultura popular pulsante de canto a canto no nosso Estado.
Noite do domingo durante apresentação da Cia Boca de Cena |
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