Logo ali, pertinho de casa, o projeto Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade aportou em Cruz do Espírito Santo na tarde do último sábado (19/10) com o parceiro e brincante Hélio da cidade de Mari para apresentar em praça pública o melhor da brincadeira do babau tradicional da Paraíba.
No local do evento, às margens da rodovia e do Rio Paraíba, fomos recepcionados por um belo fim de tarde que atraiu a muitos durante o anoitecer. E foi sucesso viu! O povo lotou a Praça dos Três Poderes para conferir de perto a arte do teatro de bonecos popular do Hélio que leva para dentro de sua tenda um assistente mais que especial: seu filho que desde cedo aprende o legado da brincadeira através do pai.
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Babau do Hélio se apresentando para o grande público |
O domingo (20/10) amanheceu e a equipe de produção da Cia Boca de Cena teve que se dividir para dar conta das atividades do dia. Primeiro, nossa coordenadora pedagógica Amanda Viana junto com o diretor de palco José Valério se dirigiram ao Centro Rural de Formação para a realização da oficina sobre Patrimônio Imaterial, enquanto o restante da equipe saiu a campo em busca de mapear as manifestações culturais locais.
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Amanda Viana ministrando a oficina sobre Patrimônio Imaterial |
Mas o que Benedito e João Redondo encontraram por lá?
Primeiro, que as noções de perto e longe no interior são bem relativas, tudo fica logo ali sabe? Mas nossa equipe sentiu bem o peso desse 'é logo ali' ao desbravarem as zonas rurais em busca de personagens significativos do universo da cultura popular no município.
Começamos com um achado histórico marcante: Dona Rita - rezadeira de 73 anos de idade e que há mais de 50 anos pratica o ofício da reza na cidade. Ela além de apresentar sua forma e crença na reza, nos relatou do período em que foi muito procurada pelos moradores do município: durante as duas maiores enchentes que assolaram a cidade nos anos de 1985 e 1986, além de sua história de vida e ligação forte com a avó que lhe repassou os ensinamentos deste ofício.
Zarpamos na direção da Comunidade Jacques onde encontramos Seu Nino que aprendeu a brincadeira do babau vendo outros mestres brincarem, até comprar uns bonecos de madeira na Usina Santa Helena e se tornar um brincante. Porém, deixou o babau de lado há muitos anos e, hoje, depois que aprendeu a batucar o zabumba com um compadre, se dedica aos trabalhos com o coco de roda e ciranda em um grupo formado por 15 pessoas, onde até os jovens e crianças praticam e preservam a arte da cantoria e dança.
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Seu Nino no zabumba junto com a equipe no coco de roda |
O encerramento do dia de pesquisas não podia nos reservar coisa melhor. Já na tarde do domingo, atravessamos o Rio Paraíba, a velha Ponte do Jacques, a antiga Estação de Trem e muitos passos de uma caminhada que nos levou à Comunidade Cobé onde desfrutava de sua cesta o senhor Antônio Alves de Oliveira, com 71 anos de idade, conhecido por Mestre Mingau.
E que história de vida linda! Além do mais, toda ela pulsava vibrante em sua memória como momentos recentes da época em que ainda brincava o babau. Ele aprendeu a brincadeira com o pai, mas desistiu por falta de apoio à cultura popular da parte dos poderes públicos. Ainda guarda 15 bonecos confeccionados do mulungu e a vontade de repassar toda sua sabedoria do 'fazer cultura popular' para outras pessoas.
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Gravações com Antônio Alves - Mestre Mingau |
Com o patrocínio do Governo do Estado da Paraíba através da Secretaria de Estado da Cultura, apoio cultural do Centro Rural de Formação e Prefeitura Municipal de Cruz do Espírito Santo, a Cia Boca de Cena realiza o projeto Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade na pesquisa e registro de histórias bonitas do teatro de bonecos e cultura popular por mais seis cidades do interior paraibano. Os trabalhos continuam!
Texto - Anderson Santana
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