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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A visita de Outubro

Há muitos anos atrás eu conheci uma menina chamada Ana, uma criança alegre e muito arteira que vivia com a cabeça cheia de ideias e adorava conversar com os adultos. 

Sua mãe sempre dizia:

- Ana mulher, deixa fulana em paz! 

- Oh menina pra falar meu Deus!

E era verdade; ela falava sobre tudo e, principalmente, sobre como ela gostava do mês de outubro, pois além de ser o mês em que se comemorava o dia das crianças (12), era o mês em que chegava em sua casa a melhor visita.

A casa dela ficava no centro (meio) da rua, entre duas ladeiras, em um bairro pobre na periferia da cidade de João Pessoa/PB. Então, quando Ana estava em frente de casa, conseguia ver de longe quem apontava na "cabeça da ladeira". 

Bem, é bom dizer que nessa época era através do rádio e de algumas visitas que as informações chegavam à comunidade, pois até a televisão era coisa para gente rica. Então, receber visitas, para algumas famílias era motivo de alegria e satisfação. Algumas, inclusive, marcavam o dia de receber a visita do fotógrafo e todos da casa tinham que se arrumar e se postar bem vestidos para tirar os famosos "retratos de família".

Na família de Ana, por exemplo, se fazia fila para as fotos. Primeiro os avós, depois os pais, em seguida as crianças e, por final, todos juntos. Se por acaso eles tivessem adquirido algum Bem material, teria que se tirar uma foto ao lado desse Bem como forma de registrar o progresso familiar.

Todo mês havia de se receber uma visita especial e, para a menina, era em outubro que chegava a sua. Um dia ela a viu chegando lá em cima da ladeira e ficou enlouquecida correndo e avisando à mãe e avó que a visita estava descendo a ladeira e entrando em todas as casas. Se fosse no mês de dezembro vocês poderiam pensar que era um velho vestido de papai Noel, mas não era dezembro e, sim, outubro.

A tal visita vinha carregando uma mala pesada e em cada casa que entrava passava horas mostrando o que de novo tinha trazido. De longe se via apenas os olhos brilhantes das crianças e as gargalhadas dos mais velhos.

Ana, já pavorosa de tanta ansiedade, dizia para a Mãe que se essa visita não se apressasse não teria como ver as coisas, pois a noite já estava perto de chegar e a luz era pouca para tanta beleza. Dona Maria - a mãe - sorria e pedia para que a menina fosse tomar água pra não morrer de agonia.⁸

Foi quando finalmente o homem de roupa clássica e chapéu panamá bateu palmas em frente à cerca de entrada da casa: Pá, Pá, Pá... - Oh de casa!

A menina ao ouvir as palmas saiu correndo com um copo de alumínio cheio de água na mão, quase atropelando todos que aguardavam a tal visita tranquilamente na sala da casa.

- Entre, entre; seja bem vindo! E sua mala? Tá pesada? Trouxe coisas novas para mim?

Coisas coloridas? Coisas Alegres?

O homem tirou o chapéu e disse: - Calma Aninha! Seus livros estão aqui!

Essa era a melhor visita do mês de outubro da menina Ana: o livreiro.

O homem dos livros!

O vendedor de livros! 

Todos os anos, no mês de outubro, o homem do livro trazia consigo uma mala cheia de novidades para todos os gostos... Enciclopédias, o poder das ervas medicinais, orações, simpatias e, os melhores de todos - segundo a Ana, os livros de Contos Infantis.

Neste dia em especial, ela ganhou uma coleção de contos de fadas que vinham acompanhados dos pequenos discos de vinil, os compactos LPs, além de folhas extras com fábulas e pequenos contos.



Ah! E também ganhou uns livros que vinham com belas ilustrações coloridas que, para a época, era uma novidade em termos de ilustrações literárias.


Aninha era fogo na roupa e, digo a vocês, essa menina mudou a minha vida e me ensinou o amor por outubro e pelos contos!

Viva às crianças!

Viva ao livro!

Viva aos contadores de histórias!

2 comentários:

  1. Me vi em Aninha... será coincidência?! Kkk Mas, no caso desta Aninha, não havia livreiro ou mês específico, todos os dias de leitura eram especiais... 😘

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