Há 28 anos trabalhamos com teatro de bonecos no Brasil e a todo momento vivemos situações inesperadas que envolvem desde a concepção de nossas obras de artes até sua chegada ao destino final: o público.
E é justamente nesse lugar de público onde mais nos aprofundamos em nossas pesquisas, levantando questões aparentemente "simples, mas que nos levam a questionar: Será que as pessoas estão realmente entendendo a mensagem do espetáculo?
A partir desse questionamento cresceu a nossa vontade de sermos uma Cia atenta a tudo que envolve inclusão, buscando trabalhar com um teatro de bonecos em que as pessoas se sentissem incluídas, no jogo dramático e na dramaturgia com interatividade espontânea, que é uma das principais características do boneco popular do nordeste do Brasil.
Algumas situações, neste sentido, nos trouxeram experiências onde percebemos que não tínhamos preparação suficiente para atender a diversidade de pessoas que nos chegavam - um desafio.
Inicialmente, ainda nos anos 90, tivemos uma boa provocação: recebemos em nosso espaço um grupo de pessoas com deficiência visual (crianças, jovens e adultos), que nos mostraram caminhos para acessibilidade cultural.
A partir daí fomos em busca de ajuda no Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha - ICPAC e, através de conversas e orientações com o professor Marcos Silva e pessoas cegas atendidas pelo Instituto, realizamos nossa segunda ação de acessibilidade cultural, onde levamos um espetáculo de "teatro de bonecos" para dentro da Instituição, porém já adaptado para o público com uma ação sensorial anterior a apresentação teatral.
Esta atividade gerou frutos: um artigo acadêmico intitulado "Patrimônio Inclusivo - Uma experiência dos sentidos" e um registro audiovisual disponível em :
Para encontrar respostas para estas questões aprendemos que precisamos ouvir mais e sentir mais, na busca de trabalhar a partir da escuta do outro e entendendo a importância de se compreender as dimensões da inclusão a partir das percepções de uma pessoa com deficiência.
Como prática, retornamos ao Instituto dos Cegos da Paraíba para mais orientações com professor Marcos Silva - coordenador pedagógico da Instituição e umas das coordenadoras da área de cognição. Um momento de aprendizagem importantíssimo, onde avançamos e fomos convidados para uma experiência: realizar uma contação de histórias para crianças com deficiência visual, sindrome de Down, TEA - Transtorno do espectro autista e seus familiares.
Cientes de que da melhor maneira possível buscamos contribuir com
esta lacuna de investimento contínuo na área da educação patrimonial, sentimos
orgulho por realizar atividades junto a escolas, instituições, comunidades e
sociedade em geral, mas também sabemos que tais ações necessitam ser retomadas
de forma mais ampla e contínua, pois quando se trata da memória cultural de um
povo, se não for exercitada acaba por se tornar esquecida.
Em nossos trabalhos seguindo orientações do ‘Guia Básico da
Educação Patrimonial’ publicado pelo IPHAN, prezando pela aplicabilidade de
atividades fruto de um processo sistemático de trabalho educacional centrado no
Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento
individual e coletivo, a partir da experiência e do contato direto com as
evidências e manifestações da cultura (HORTA, GRUMBERG & MONTEIRO, 1996).
Assim permaneceremos com o levante da bandeira da preservação do
nosso Babau e, ampliando nossas parcerias, trabalhando em conjunto com antigos
e novos representantes de patrimônios culturais imateriais reconhecidos em
nosso estado a fim de unir forças na luta permanente pela manutenção de
mestres, brincantes e fazedores culturais do teatro de bonecos, ciranda, coco
de roda, cordel, hip hop e muitos outros que compõem a história cultural da
Paraíba.
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