Colaboradores

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

WORKSHOP FIGURAS E PASSAGENS DO BONECO POPULAR

O teatro de bonecos popular do nordeste do Brasil é um universo lúdico, crítico e muitas vezes grotesco, mas que traz em sua essência os conflitos inerentes de uma sociedade.

Enquanto brinquedo popular no teatro de animação ele se apresenta com formas, contextos e elementos muito específicos o que o tornou oficialmente reconhecido como um Bem cultural brasileiro, ou seja, um tipo de teatro que só acontece dessa forma e com tais características em nosso País.

Entender como ele acontece, quais os personagens que o compõe, como se organiza cenicamente e quais os papeis de seus fazedores na construção dramatúrgica desse teatro é de grande valia para quem deseja iniciar um trabalho com esta linguagem no teatro de animação.

Com o objetivo de responder ao público questões frequentes sobre este teatro popular, a pesquisadora Amanda Viana irá disponibilizar no dia 40/12/2020, as 19:00h, no canal do You Tube da Cia Boca de Cena, o Workshop FIGURAS E PASSAGENS DO BONECO POPULAR. Apresentando os elementos que compõem a estrutura cênica e dramatúrgica de um teatro de bonecos popular paraibano, tendo como foco o babau e suas características específicas.

Este vídeo é realizado com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. 
Lei Federal nº 14.017, de 29 de junho 2020.
Com o apoio da Secretaria de Estado Cultura e do Governo do Estado da Paraíba 
EDITAL Nº 004/2020 - EDITAL CHICA BARROSA 
Paraíba, dia, mês e ano.
#LeiAldirBlanc
#LeiAldirBlancPB
#SomosTodosParaíba

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A visita de Outubro

Há muitos anos atrás eu conheci uma menina chamada Ana, uma criança alegre e muito arteira que vivia com a cabeça cheia de ideias e adorava conversar com os adultos. 

Sua mãe sempre dizia:

- Ana mulher, deixa fulana em paz! 

- Oh menina pra falar meu Deus!

E era verdade; ela falava sobre tudo e, principalmente, sobre como ela gostava do mês de outubro, pois além de ser o mês em que se comemorava o dia das crianças (12), era o mês em que chegava em sua casa a melhor visita.

A casa dela ficava no centro (meio) da rua, entre duas ladeiras, em um bairro pobre na periferia da cidade de João Pessoa/PB. Então, quando Ana estava em frente de casa, conseguia ver de longe quem apontava na "cabeça da ladeira". 

Bem, é bom dizer que nessa época era através do rádio e de algumas visitas que as informações chegavam à comunidade, pois até a televisão era coisa para gente rica. Então, receber visitas, para algumas famílias era motivo de alegria e satisfação. Algumas, inclusive, marcavam o dia de receber a visita do fotógrafo e todos da casa tinham que se arrumar e se postar bem vestidos para tirar os famosos "retratos de família".

Na família de Ana, por exemplo, se fazia fila para as fotos. Primeiro os avós, depois os pais, em seguida as crianças e, por final, todos juntos. Se por acaso eles tivessem adquirido algum Bem material, teria que se tirar uma foto ao lado desse Bem como forma de registrar o progresso familiar.

Todo mês havia de se receber uma visita especial e, para a menina, era em outubro que chegava a sua. Um dia ela a viu chegando lá em cima da ladeira e ficou enlouquecida correndo e avisando à mãe e avó que a visita estava descendo a ladeira e entrando em todas as casas. Se fosse no mês de dezembro vocês poderiam pensar que era um velho vestido de papai Noel, mas não era dezembro e, sim, outubro.

A tal visita vinha carregando uma mala pesada e em cada casa que entrava passava horas mostrando o que de novo tinha trazido. De longe se via apenas os olhos brilhantes das crianças e as gargalhadas dos mais velhos.

Ana, já pavorosa de tanta ansiedade, dizia para a Mãe que se essa visita não se apressasse não teria como ver as coisas, pois a noite já estava perto de chegar e a luz era pouca para tanta beleza. Dona Maria - a mãe - sorria e pedia para que a menina fosse tomar água pra não morrer de agonia.⁸

Foi quando finalmente o homem de roupa clássica e chapéu panamá bateu palmas em frente à cerca de entrada da casa: Pá, Pá, Pá... - Oh de casa!

A menina ao ouvir as palmas saiu correndo com um copo de alumínio cheio de água na mão, quase atropelando todos que aguardavam a tal visita tranquilamente na sala da casa.

- Entre, entre; seja bem vindo! E sua mala? Tá pesada? Trouxe coisas novas para mim?

Coisas coloridas? Coisas Alegres?

O homem tirou o chapéu e disse: - Calma Aninha! Seus livros estão aqui!

Essa era a melhor visita do mês de outubro da menina Ana: o livreiro.

O homem dos livros!

O vendedor de livros! 

Todos os anos, no mês de outubro, o homem do livro trazia consigo uma mala cheia de novidades para todos os gostos... Enciclopédias, o poder das ervas medicinais, orações, simpatias e, os melhores de todos - segundo a Ana, os livros de Contos Infantis.

Neste dia em especial, ela ganhou uma coleção de contos de fadas que vinham acompanhados dos pequenos discos de vinil, os compactos LPs, além de folhas extras com fábulas e pequenos contos.



Ah! E também ganhou uns livros que vinham com belas ilustrações coloridas que, para a época, era uma novidade em termos de ilustrações literárias.


Aninha era fogo na roupa e, digo a vocês, essa menina mudou a minha vida e me ensinou o amor por outubro e pelos contos!

Viva às crianças!

Viva ao livro!

Viva aos contadores de histórias!

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Retomada das atividades do projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba

Um intervalo forçado de praticamente seis meses devido ao estado em que o mundo se encontra. Porém, o planejamento para a adaptação das ações do projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba à realidade em que nos encontramos já se manifestava desde meados de julho.

Por enquanto, atividades e eventos que envolvam aglomerações ainda estão impedidas de serem realizadas em prol da seguridade dos fazedores e toda população. Devido a isto, as apresentações públicas de espetáculos de babau pendentes nas ações do projeto não poderão ser realizadas.



Mas a boa notícia é que as demais ações propostas já estão em prática com os devidos cumprimentos das normas de segurança. Prova disto ocorreu na tarde do dia 29/09, quando reuniram-se virtualmente pesquisadores, técnicos do IPHAN PB, gestores públicos e representantes da sociedade civil organizada para compartilhar informações a respeito dos patrimônios imateriais, ações de salvaguarda, administração de políticas públicas, editais e realidade artístico cultural em tempos de pandemia, com atenção especial ao que se refere a Lei Aldir Blanc e sua implantação nos munícipios.

A videoconferência contou com a participação de gestores públicos dos municípios de Bananeiras, Mari, Lagoa de Dentro, Sapé, Sobrado, Solânea e Pedras de Fogo, como também representantes do Conselho Estadual de Cultura e FAAC - Fórum de Atividades Artísticas e Culturais de Sapé. No centro dos debates e discursos estavam os técnicos representantes da instituição realizadora do projeto IPHAN PB: Emanuel Braga, Carla Moraes, Nina Lannes e Elaine Paiva, além de Artur Leonardo e Amanda Viana representando a entidade executora do projeto, a Cia Boca de Cena.



Após os discursos principais, a reunião contou com a participação de Tiago salvador, diretor de cultura de Solânea, apresentando exemplos de boas práticas de políticas públicas aplicadas em prol da valorização e apoio à cultura e patrimônios imateriais.

Para finalizar, um debate foi proposto onde relatos de experiências, trocas de sugestões e indicações para melhor administrar e gerir os recursos públicos em prol dos fazedores da cultura popular e patrimônios, suscitou demandas e informações enriquecedoras para todos os envolvidos. Mais de três horas de reunião e satisfação generalizada entre os participantes como resultado do encontro.

E o projeto continua pessoal. Estamos em fase de negociações com as prefeituras contempladas nesta primeira etapa para a adaptação das oficinas de formação, conforme as possibilidades e características de cada cidade, além, é claro, do cumprimento das orientações sanitárias e protocolos estaduais e nacionais no que tange este tipo de prática.

O projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba é uma realização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Paraíba - IPHAN/PB, com produção executiva da Cia Boca de Cena e apoio cultural das prefeituras municipais de Pedras de Fogo, Sapé, Mari, Lagoa de Dentro e Solânea.




Anderson Santana - Cia Boca de Cena

Assessoria de Comunicação

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Aquela velha esperança

Eu conheci a esperança ainda na infância. Quando pequena, minha mãe me deixava aos cuidados dos meus avós paternos em uma casa que só tinha adultos; a pessoa mais nova era um Tio que tinha uma diferença de idade comigo de cinco anos. Então, sempre fui muito sozinha e tinha que me virar pra aprender muitas coisas, inclusive criar formas de me divertir sem a intromissão dos adultos.

Um dia, porém, eu estava muito triste porque era véspera de Natal e todos daquela casa de Vó estavam com seus pais e mães, primos e primas, vizinhos, conhecidos... menos eu.

Foi quando fiquei olhando para uma estrela bem longe e ouvi do outro lado da cerca alguém chamando:

- Psiu, psiu!

Era a Esperança; foi impressionante! Ao primeiro momento tive um susto daqueles, pois de onde tinha saído aquela criatura?

Ela era mais velha do que eu e aparecia como de um lugar encantado. A Esperança me ensinava a não comer pimenta; a fugir de vez em quando pra brincar na rua; a conhecer outras crianças que moravam por perto e minha Avó nunca me deixava brincar com elas, além de ver as brincadeiras dos meninos que, diga-se de passagem, eu muitas vezes achava um horror aquele negócio de ‘brincar de briga’.

Os anos se passaram, eu ganhei um irmão que rapidamente foi embora e nem teve tempo de crescer. Depois veio outro e este cresceu junto comigo.

Acabou minha infância, mudamos de casa e perdi totalmente o contato com a Esperança. Nunca soube o que tinha acontecido com ela e às vezes me punha a pensar se aquela pessoa realmente existiu ou era coisa da minha imaginação.

Daí, neste ano tão difícil, comecei a remexer a minha mala de memórias e encontrei um fio de esperança, um fio de lembranças que me fez tomar a decisão de procurar a minha melhor amiga.

Resolvi voltar à rua que morei quando criança e procurar algo que me levasse até ela. Conversei com os ainda moradores do lugar. Alguns me disseram lembrar que realmente tinha existido alguém com aquele nome, mas o que se sabia é que ela tinha ido embora e que passou a ser vista pelas ruas da cidade junto aos moradores de rua.

Eu voltei para casa com milhões de sentimentos e decidida a encontrar Esperança. Durante dias e noites minha vida virou de cabeça para baixo, pois se tornou uma saga encontrá-la.

Passei a olhar cada centímetro da cidade como se estivesse procurando uma agulha no palheiro, uma observação cuidadosa sobre onde e com quem poderia estar a Esperança.

Na minha procura alucinada vi muitas pessoas na rua, embaixo das marquises dos grandes prédios públicos, em caixotes de papelão dormindo ao relento em frente de lojas de alto padrão com voluntários doando sopas e cobertores, crianças com barrigas cheias de verminoses e catarro descendo pelo nariz, além de uma infinidade de animais famintos e doentes que remexiam os lixos das ruas.

Eu não encontrei a Esperança!

Voltei a refletir e me questionar: será mesmo que ela existiu?

Em um dia domingo, saí ao meio da tarde e parei em frente a uma das praças mais bonitas e arborizadas de minha cidade. Sentei em um banco e uma calmaria me envolveu, fechei os olhos e me permiti sentir os cheiros, sons e temperatura daquele momento.

Quando abri os olhos vi que, um pouco à frente de mim, estava uma senhora de cabelos brancos, mexendo nos canteiros da praça. Ela organizava e cheirava as flores, parecia estar conversando com as plantas. Eu fiquei quieta por um tempo só observando todo aquele movimento e achei aquela figura muito familiar.

Resolvi me aproximar e conversar com ela, mas a senhorinha não me deu atenção; continuou seu diálogo com as flores... até que ela parou, olhou para mim e deu alguns passos para o lado trazendo um tripé daqueles que os artistas plásticos usam para colocar suas telas. Em seguida ela fez o mesmo movimento e trouxe consigo uma pequena tela, pôs no tripé e com um pequeno pincel começou a pintar.

Eu fiquei muito curiosa, mas respeitei o que se passava e não ousei me mexer por nenhum minuto. No fundo eu sabia que tinha encontrado quem eu tanto procurava. Porém, agora ela estava diferente e eu não conseguia mais me comunicar com minha amiga. Ela tinha perdido a fala e também não sei se ela me reconheceu já que, agora, eu não sou mais uma criança.

Depois de quase 30 minutos, ela olhou pra mim, sorriu e me mostrou sua pintura que continha a mensagem mais linda de toda minha vida:

Ainda há Esperança!

 Amanda Viana - Cia Boca de Cena

             Carinhosamente, produzimos esse curto vídeo para ilustrar esta história emocionante. Assistam!



terça-feira, 18 de agosto de 2020

Um sopro de afeto

Assim como milhares de artistas desse Brasil, a Cia Boca de Cena também vem passando por dificuldades de manutenção básica como pagamento de luz, internet, água, contabilidade e tantas outras coisas necessárias para nos mantermos administrativamente ativos enquanto coletivo artístico-cultural.

Mas acredito que o maior de todos os desafios é assegurar o equilíbrio emocional e psicológico de toda a equipe, nos mantermos conectados e atentos a tudo, sem pânico e controlando a ansiedade que nos acompanha implacavelmente.

Então, cada pessoa do grupo buscou individualmente encontrar caminhos para trabalhar seu equilíbrio interior, ao mesmo tempo que vem compartilhando quando possível suas conquistas, como novos projetos, aprovações em editais, boas conversas, risos, etc.

Eu decidi que iria aproveitar o tempo para mergulhar nas leituras, fazer a manutenção dos nossos bonecos e também confeccionar novos personagens. Daí, fui a cada dia tentando criar uma rotina e, confesso que não foi e nem é fácil, pois há dias em que o desânimo é tão grande que as janelas demoram a serem abertas.

Porém, com um respirar profundo aqui e outro acolá as coisas vão acontecendo e em um desses dias peguei 10 cabeças de bonecos para restaurar quando, de repente, encontrei alguns bonecos antigos que inclusive tinham sido feitos pelo Gabriel Viana (ainda pequeno), em umas das oficinas ministradas para crianças na antiga sede da Cia Boca de Cena.

Nessa exploração, uma cabeça em especial me chamou atenção: uma porquinha feita de garrafinha pet com papiér machê que eu mesma tinha confeccionado há muito tempo atrás.

Já em outro momento, à noite, comecei a trabalhar na restauração das cabeças e, sozinha na oficina, sentia um vento bom e um sopro ao pé de ouvido que dizia: é para Sofia?

Eu - meio sem entender - dei continuidade à produção; lixei, pintei, maquiei a porquinha, pus roupa e... o nome de Sofia soprava a todo momento ao meu ouvido. 


Daí comecei pensar em como fazer com que a Cia Boca de Cena chegasse até as crianças de forma concreta e não virtual, mas sem o nosso contato físico.

Hoje, o que mais escuto é que as crianças começaram a apresentar dificuldades de concentração, por causa do excesso de atividades virtuais e, o que antes era uma atividade prazerosa para elas - ficar na internet, agora está virando uma obrigação.

Como artista a gente conhece muita gente e quando se trabalha com crianças então... É infinita a quantidade de Sofias, Lucas, Mateus que passam por nossa vida e até difícil lembrar de todos os momentos com essas crianças.

Mas qual a história e quem é essa Sofia à qual me refiro?

Trata-se de uma Sofia especial, muito presente em minha memória! Uma menina linda, de rostinho singelo e doce, que dança um frevo daqueles, joga uma capoeira da gota serena e tem um coelho de verdade a quem deu o nome de Banzé em nossa homenagem.

Um respiro e decido ligar para a mãe desta Sofia. Ao telefone com a  mãe da criança pergunto como vão as coisas e a menina. Atenciosa, a mãe me responde e divide comigo um pouco do que a pandemia causou em sua família e eu do que estava vivendo naquele momento.

As emoções foram incalculáveis! Eu não imaginava o que a família tinha passado com a Covid-19 e nem as estratégias que tinham usado para manter o isolamento social dentro de casa.

A conversa ao telefone durou horas e eu, muito emotiva, entendi naquele instante o porque do tal sopro ao meu ouvido - era o danado do afeto tentando me avisar que uma criança estava precisando sorrir e gritar alto de alegria.

Ao constatar o recado do sopro do "Senhor Afeto" relatei para a mãe que a Cia Boca de Cena iria chegar à sua casa. Combinamos como seria essa chegada e decidimos fazer uma entrega (tipo Correios) sem que a criança nos visse.

No dia marcado fizemos a entrega e, junto com a boneca, estava um cartão do Coelho Banzé pedindo para que Sofia recebesse aquela criaturinha e lhe desse um nome. Pouco depois soubemos que a porquinha recebeu o nome de Maria.

Hoje, Sofia e Maria vivem grudadas brincando, sorrindo e cuidando do outros amiguinhos que moram com elas.

Grata Senhor Afeto! Quando possível pode soprar mais uma vez ao pé do meu ouvido que estou ao seu dispor...

Com afeto.

Amanda Viana - Cia Boca de Cena

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Um mestre, os amigos e a pandemia

A Cia Boca de Cena tem em sua trajetória um intenso trabalho de pesquisa e documentação sobre o teatro de bonecos do estado da Paraíba e que gerou projetos maravilhosos como o "Benedito e João Redondo pelas Ruas da Cidade", referenciado pelo Iphan como um exemplo de ação de salvaguarda para um Bem Cultural Imaterial.
Mas assim como vários outros coletivos culturais, também vem sofrendo bastante com a atual situação do nosso País, seja no campo das políticas públicas de cultura e sua ineficiência - diria até inexistência atual - como no processo de pandemia, onde todos sabem que um dos setores mais atingidos é o cultural.
E, quando nos referimos ao sofrimento, vamos além das questões econômicas e nos detemos ao bem estar dos seres humanos, pois quem acompanha o nosso trabalho é sabedor de nossa preocupação com os mestres bonequeiros mais idosos, pessoas de extrema carência e que muitas vezes vivem isolados da cruel realidade política do Brasil.
Neste sentido, sempre que pensamos em realizar uma ação, priorizamos trabalhar primeiro o valor afetivo das relações, pensar o trabalho a partir da necessidade do outro ser humano: o que realmente vai valer a pena?
A convivência contínua com os mestres da cultura popular, em especial os bonequeiros mais idosos, nos fez refletir e pensar o mundo de forma diferente, onde mais que viabilizar uma ação cultural, precisamos parar e ouvir as histórias dos mais velhos, exercitar a paciência, andar de pés descalços para não machucar ninguém e, acima de tudo, respeitar a diversidade cultural.
Quando a pandemia chegou, a Cia estava executando o projeto de "Salvaguarda do Babau da Paraíba" junto com o Iphan/PB, onde chegamos a realizar dois encontros entre os bonequeiros e algumas apresentações públicas de babau. Mas tivemos que, obrigatoriamente, parar tudo e cancelar outras atividades que estavam planejadas.
Agora vou relatar pra vocês um pouco do que estamos vivenciando neste momento "pândemico", pois, a cada avaliação que fazemos internamente questionamos se o que fazemos está sendo significativo e para quem serve esta significância.
Quase sempre quando nos lançamos a uma autocrítica vem um velhinho nos ensinar o valor da vida e de nossas ações, pois mesmo longe estamos tentando nos manter conectados aos nossos companheiros de arte.
Vamos ao relato:
Certo dia o Artur Leonardo, nosso diretor, recebe uma ligação de um diretor da escola da zona rural do Sítio Canto de Pedra, da cidade de Lagoa de Dentro-PB.
Era o professor Jair Bertoldo, o mesmo fala para o Artur que o mestre Manuel Campina deseja muito lhe falar e que é de extrema urgência sua presença na casa do mestre.
Artur muito preocupado, pergunta se o mestre está bem de saúde e se algo grave aconteceu.
Jair então explica que nada muito grave, mas que seu Manuel Campina vai colher os milhos do roçado e gostaria de compartilhar com Artur a fartura e aproveitar para lhe contar uns causos.
Artur sorriu e disse: Jair com esse Coronavírus à solta não quero arriscar, por cuidado ao seu Manuel! Mas, vou pensar aqui no que fazer e como fazer, pois não é fácil sair de casa nesse momento.
Jair então, respondeu: grave um áudio explicando isso Artur, como você sabe, seu Manuel não sabe mexer no celular e ele precisa ouvir você falando pra acreditar que me comuniquei com você!
Artur, então gravou um áudio como reposta ao mestre.
Enfim, depois de muita conversa entre nós (Artur, Amanda e Gabriel Viana) decidimos ir à casa de seu Manuel, tomamos os devidos cuidados usando máscara, álcool em gel e cada um com sua garrafinha d'água pegamos a estrada rumo ao Sítio Canto de Pedra.
Ao chegarmos lá encontramos uma paisagem belíssima, pois anda chovendo muito pela região e os açudes estão cheios e o mato bem verde.


Seu Manuel veio nos receber com um sorriso que não tinha tamanho, segundo ele sabia que Artur não ia lhe fazer uma desfeita e tinha certeza que ele iria atender ao seu chamado. E agora estava mais feliz porque teve o prazer de conhecer o filho de Artur, o jovem Gabriel Viana


Artur, sorridente agradeceu o carinho, mas logo disse ao mestre que por segurança não poderia abraça-lo e nem retirar a máscara.
Seu Manuel, meio desconfiado se fez de satisfeito e convidou a todos para entrar.
As conversas foram muitas e a todo tempo o mestre se reportava ao garoto Gabriel dando exemplos de vida, contando suas aventuras com as mulheres, bebidas e brincadeiras de babau.
Até que chegou a hora do roçado e foi aí que se achegou Dona Maria, a mulher do Mestre, uma senhora simples e muito firme em suas respostas.


No roçado eu, Amanda, fiquei encantada com a pequena horta e com a qualidade da terra. Dona Maria começou a me explicar os cuidados com a plantação de coentros e a dificuldade de se plantar algumas coisas, por causa dos pássaros que comem tudo antes das pessoas.
Seu Manuel teve o prazer de nos mostrar tudo e nos dar uma aula sobre o plantio da macaxeira.

Lá tinha de tudo um pouco: fava, macaxeira, jerimum, pimentão, coentro, milho, goiabas e um cachorro amarrado chamado Antonio. (risos)
Depois do turismo no roçado sentamos no alpendre da casa e começaram os causos, o mestre não parava de falar e sorrir e todos juntos esquecemos do tempo, até que a tarde foi acabando e chegou a hora da despedida, seu Manoel não nos deixou sair sem trazermos um punhado de fava, um jerimum, goiabas, milhos e muitos afagos de amor e cumplicidade.
No final de tudo isso, saímos ainda mais fortalecidos e cheios de esperança, além de uma vontade de fazer ainda mais pelas pessoas. Não há dinheiro, poder ou status no mundo que nos faça mais feliz do que o respeito e o carinho que sentimos e dedicamos aos nossos velhos amigos. 
O cuidado não pode ser só físico ou financeiro, as emoções são nutrientes para que estejamos saudáveis psicologicamente e se não cuidarmos da nossa essência interior podemos enlouquecer com os maus pensamentos. Quando você estiver com um  idoso que  lhe recontar uma história, reaja como se nunca tivesse ouvido, sorria e agradeça por ter alguém que está feliz por sua presença.
Tudo isto nos mostra que dinheiro não é vida, milhões de pessoas estão morrendo e muitas cheias de dinheiro, o que a pandemia quer nos dizer? O que vale a pena?
Para a Cia Boca de Cena trabalhar a salvaguarda de um Bem Imaterial é antes de mais nada salvar a vida humana. Só haverá brincadeiras de babau se os fazedores continuarem vivos!


Amanda Viana - Cia Boca de Cena

sexta-feira, 29 de maio de 2020

As Histórias de Dona Chica vão encantar o seu domingo

Amanda Viana, coordenadora da Cia Boca de Cena, teve seu projeto aprovado no Edital Meu Espaço - Compartilhando Cultura, da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, na categoria Contação de Histórias.
O resultado do trabalho registrado em audiovisual poderá ser conferido na plataforma do YouTube da Funesc, a partir das 17h45 deste domingo (31/05).
Assistam, curtam, comentem e matem as saudades do teatro de bonecos através das memórias da Dona Chica e aventuras da boneca Anita para presentear a sua bisavó.





terça-feira, 17 de março de 2020

Sobre últimas apresentações em Sapé e pausa nas atividades do projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba

A passagem do projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba no último final de semana na comunidade de Inhauá em Sapé foi simplesmente fantástico. No sábado (14/03) o Mestre Toba com seu boneco ventríloquo Futuca, além do Mestre Reis do Babau com seus ajudantes Sebastião e Igor, agitaram a plateia com duas apresentações super divertidas. A risadaria rolou solta na praça.
Futuca e seu Mestre Toba
Já no domingo (15/03) foi a vez da Cia Boca de Cena que se alegrou e surpreendeu com um público enorme que lotou a Praça do Carrasco. Foi pura troca de boas energias. O babau atraiu de idosos a crianças, gestores públicos e outros artistas populares como Rafael, Tiririca e seu boneco Malandrinho que estão atuando também no YouTube através do canal: O Cigano e o Boneco.
Sebastião, Igor e Reis: duas gerações do Babau
Ainda temos apresentações públicas a realizar em Mari, como também seminários para gestores públicos e oficinas de confecção e manipulação de bonecos.
Porém, seguindo as orientações preventivas adotadas pelas autoridades, o momento atual é de se resguardar e evitar aglomerações. Por isto, comunicamos que as atividades relativas a este projeto estão temporariamente suspensas.

Assim que possível, comunicaremos o retorno das ações do projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba, que é uma realização do IPHAN-PB com produção executiva da Cia Boca de Cena e apoios culturais das prefeituras municipais envolvidas.
Contamos com a compreensão de todos e ficamos na torcida por um retorno breve. Cuidem-se!





quarta-feira, 11 de março de 2020

Circulação de brincadeiras chega em Sapé pelo projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba

Após três dias incríveis de muita brincadeira e cultura nas zonas rurais e urbana de Pedras de Fogo e Lagoa de Dentro, o projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba segue com mais um final de semana repleto de atrações, agora, na zona rural da cidade de Sapé.
Na sexta-feira (06/03) realizamos duas apresentações na Comunidade do Una II, zona rural de Pedras de Fogo. No final da tarde, o brincante Pedro Luis com o grupo Babaulengo apresentou o espetáculo 'Viver, Brincar e Sorrir' e, logo em seguida, a Cia Boca de Cena trouxe o 'Tem Boi no Algodão' pro palco e a comunidade gargalhou até o anoitecer.
Apresentação do grupo Babaulengo de Pedras de Fogo
Sem tempo a perder, no sábado (07/03) chegamos à Vila Gravatá, zona rural de Lagoa de Dentro, e preparamos tudo para a apresentação do Mestre Nildo, bonequeiro local, acompanhado na percussão por seus irmãos Cravinho e Dão. A Cia Boca de Cena, logo após o babau comer no centro por lá, deu uma prévia do que estaria por vir no dia posterior apresentando trechos do espetáculo em agradecimento à sempre boa receptividade da comunidade para conosco.
Babau do Mestre Nildo e seus irmãos na Vila Gravatá
No domingo (08/03), a área urbana da cidade se agitou no fim de tarde quando ocupamos o calçadão da Lagoa Francisco Soares e foi maravilhoso falar da riqueza da tradição do babau por lá e apresentar o teatro de bonecos contemporâneo pra população.
Cia Boca de Cena no calçadão da Lagoa
Agora seguiremos rumo à Comunidade Inhauá, zona rural de Sapé, que receberá no próximo final de semana três grandes apresentações. É isso mesmo minha gente, vai ser babau com força!
No sábado (14/03), teremos os espetáculos do Mestre Reis do Babau e também do Mestre Toba com seus bonecos ventríloquos. No domingo (15/03) será a vez da Cia Boca de Cena apresentar o espetáculo 'Tem Boi no Algodão' por lá.
Mestre Toba com seu ventríloquo e Mestre Reis do Babau dando risada
Todas apresentações acontecerão sempre a partir das 19:00 horas na Praça do Carrasco localizada na comunidade rural de forma gratuita.

Este projeto é uma realização do IPHAN, através da Superintendência na Paraíba, com produção executiva da Cia Boca de Cena e para as próximas ações conta com apoio cultural da Prefeitura Municipal de Sapé.
Vamos nessa enaltecer nosso patrimônio cultural através do que há de melhor no teatro de bonecos popular da Paraíba minha gente!

Cia Boca de Cena com Secretária de Educação Liliane, Mestre Nildo e irmãos

Apresentação da Cia no calçadão da Lagoa Francisco Soares

Tem Boi no Algodão pra Comunidade do Una II

Final da brincadeira do Mestre Nildo na Vila Gravatá
Cia Boca de Cena, Babaulengo e Secretário de Cultura Alisson

quarta-feira, 4 de março de 2020

Projeto de Salvaguarda do Babau da Paraíba volta com maratona de apresentações públicas gratuitas em dois municípios

Após intervalo carnavalesco, o projeto retoma sua fase das brincadeiras populares nas comunidades e, dessa vez, da zona rural à urbana. O teatro de bonecos popular tradicional e contemporâneo vai invadir as ruas das cidades.
Já nesta sexta-feira (06/03) a cidade de Pedras de Fogo receberá dois espetáculos na Comunidade da Una II, a partir das 17:00 horas, quando o brincante Pedro Luis com seu grupo Babaulengo apresentará o show 'Viver, Sorrir e Brincar' e, logo após, a Cia Boca de Cena fará sua apresentação.
Uma noite repleta com o que há de melhor no teatro de bonecos popular da Paraíba pra sacudir a zona rural do município.

Coladinho com o final de semana já chegaremos em Lagoa de Dentro para mais duas incríveis apresentações. No sábado (07/03) será a vez da zona rual prestigiar o babau do Mestre Nildo. A comunidade da Vila Gravatá receberá o show do mestre bonequeiro às 19:00 horas ao lado da Igreja.
Passagem do espetáculo 'Tem Boi no Algodão'
Já o domingão (08/03) marcará a passagem da Cia Boca de Cena pelo calçadão da Lagoa Francisco Soares, quando, a partir das 17:00 horas apresentaremos o espetáculo 'Tem Boi no Algodão'. Vai ser babau até dar uma dor na canela de tanto rir minha gente!

O projeto Salvaguarda do Babau da Paraíba é uma realização do IPHAN através de sua Superintendência na Paraíba, com produção executiva da Cia Boca de Cena e, nestas ações, conta com apoio cultural das Prefeituras Municipais de Pedras de Fogo e Lagoa de Dentro.
Pedro Luis de Pedras de Fogo
Mestre Nildo de Lagoa de Dentro

Cravinho e Dão, acompanhantes de Nildo


domingo, 1 de março de 2020

Nota sobre CANCELAMENTO de atividades em Pedras de Fogo

Em respeito ao luto instaurado na Comunidade do Una em Pedras de Fogo no dia de hoje, cancelamos as apresentações públicas agendadas e adiamos os espetáculos do Projeto de Salvaguarda do Babau da Paraíba por lá.
Contamos com a compreensão de todos!