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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Grande final em João Pessoa com Benedito, João Redondo, Vavau e uma platéia ótima

Aos 8 anos de idade, ainda criança, começou a mexer com babau assistindo ao pai que se apresentava em praça pública. A cada apresentação aprendia um pouco mais sobre a arte. Por volta dos 12 anos, o pai que já estava com a saúde debilitada, em meio a uma apresentação foi acometido por forte crise. Teve que sair de sua tenda ao banheiro e não mais voltou à cena.


A brincadeira parou e pela demora do intervalo do espetáculo, o público cansado de esperar começou a ‘cobrar’ a volta dos bonecos em cena. O menino assustado com tudo aquilo tomou uma atitude corajosa: segurou os bonecos nas mãos e deu prosseguimento ao espetáculo. A voz trêmula, os atos ainda não totalmente decorados, não emitia os timbres diferentes das personagens... Nada saía em total conformidade ou perfeição, mas o importante é que o sentimento de que a brincadeira não podia parar sobressaltou a qualquer imprevisto com muito improviso e emoção, pois na medida em que o público se empolgava com a volta dos bonecos e sua encenação, o menino por trás da empanada foi gostando e desenrolou toda a narrativa até o final.


Em 2002 faleceu o grande mestre Joaquim Guedes (Joaquim do Babau), a tristeza e mágoa tomou conta do coração e da vida do menino que guardou todos os bonecos na mala e deixou lá intacta como um tesouro, uma herança pra toda a vida de pai pra filho. Não havia ânimo para brincar: ‘Esses bonecos eu não vendo, não dôo nem me desfaço deles até o fim da minha vida’ – dizia Vavau.


O tempo foi passando e as pessoas começaram a cobrar do jovem que a brincadeira voltasse. Com o apoio da família e outros segmentos da cultura local, ele venceu a timidez e foi convencido a se apresentar. Na rua não havia ninguém, mesmo assim, Benedito e João Redondo apareceram em cima da empanada, brincaram e pelo buraquinho furado na tenda, pouco tempo depois do início do espetáculo, os olhos do brincante Vavau assistiram ao milagre da multiplicação: a rua estava lotada!


Aplausos, sorrisos, alegria, magia... Aquele momento encantou e conquistou em definitivo o filho de Joaquim do Babau que desde então decidiu preservar a arte da brincadeira do babau como legado deixado por seu pai.


Mas imprevistos acontecem e o mundo dá voltas. Os bonecos voltaram à mala e permaneceram lá bem guardados e preservados por quase um ano. Oportunidades e abertura para apresentações eram raridade agora. Porém, nessas voltas que o mundo dá, o ano de 2013 reservou a aprovação do projeto ‘Benedito e João Redondo pelas ruas da cidade’ proposto pela Cia Boca de Cena que veio resgatar a prática dessa cultura milenar e trazê-la de volta aos espaços públicos, acessível a todos.


E a melhor surpresa foi constatar que aquilo que aparentemente estava adormecido, na verdade se manteve preservado na memória dos mais velhos, na curiosidade dos adultos, jovens e adolescentes que só tinham ouvido falar, além do olhar maravilhado de crianças que sequer tiveram contato um dia com a arte do babau.


Realizar o encerramento deste projetaço em João Pessoa foi quase reportar a equipe de produção da Cia Boca de Cena a um êxtase sem explicação. O fazer acontecer apresentações do teatro de bonecos popular contemporâneo junto ao babau tradicional e sendo assistidos por amigos, familiares, colegas de trabalho e estrada no mesmo espaço/tempo foi simplesmente esplêndido.


Acreditamos que não poderia haver um final melhor do que aquele vivenciado no último domingo (21/04) por todos os presentes. Nossa gratidão desde São Pedro até as muriçocas que circulavam intensamente a Pracinha dos Brinquedos. Além disto, um muito obrigado especialíssimo aos patrocinadores na representação da FUNARTE, Ministério da Cultura – MINC e Governo Federal, como também os apoiadores culturais locais representantes da Prefeitura Municipal de João Pessoa (através da FUNJOPE) e a todos incontáveis colaboradores diretos e indiretos que nos acompanharam pelos oito municípios em toda a temporada de circulação.


O babau ainda pulsa e vive. Beleza pura! Mas nessa história o final é reticente, continua [...]

Empanadas: tradicional e contemporâneo juntos

Depois de quase um ano a mala se abre e os bonecos vão se apresentar

Platéia mirim ocupando todos os lugares da Pracinha dos Brinquedos

Benedito aprontando com o padre

Humberto Dias e família na platéia

Público superlota o local do evento

Equipe de produção reunida ao final

Representação dos muitos amigos presentes

Entrevista com o Mestre Vavau

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