Em terras que já foram agraciadas
com a presença de mestres bonequeiros, dificilmente a arte do babau passa
despercebida. A Cia Boca de Cena retornou à cidade de Juripiranga pela terceira
vez, só que com a inédita passagem do projeto com nome tão peculiar que, já
na chegada ao local dos eventos fomos abordados pelos mais velhos com a
pergunta: o nêgo Benedito vai tá aqui hoje né? Sentimos desde cedo que a
expectativa era grande!
Chegamos à cidade,
almoçamos, nos alojamos no Núcleo Espírita Joanna de Angelis para descanso e
preparação, quando no meio da tarde seguimos para a rua ao lado da Igreja Matriz. Iniciamos o processo de montagem com organização das cadeiras, sistema
de som, luz e empanada que seria o palco de nosso espetáculo. A noite caiu e
logo nos deparamos com o convidado ilustre - o mestre bonequeiro mais
elegante do estado, diretamente de Guarabira; mestre Clébio chegou e num
instante organizou seus bonecos ventríloquos à frente da tenda.
Equipe da Cia saindo para iniciar os trabalhos |
O público foi se achegando e
recebemos a grata visita do brincante Pedro Luiz da Silva Filho que saiu de
Pedras de Fogo para apreciar o projeto a fim de aprofundar sua pesquisa sobre o
teatro de bonecos popular. Aos sete anos de idade iniciou seu contato com as
artes através do projeto PETI com música, enveredou pelas brincadeiras
populares com o projeto Movimento Cavalo Marinho e, pela identificação da
dificuldade no repasse das culturas populares dos mais velhos, há pelo menos seis
anos formou um grupo com jovens interessados em aprendê-las.
Dessa pesquisa, o jovem Pedro
(hoje com 24 anos) entrou em contato com seu Zé Pequeno (mestre de babau da
região), detentor de um acervo apurado com três malas de bonecos, e começaram a
trabalhar juntos – Pedro tocando rabeca e o Babau de Zé Cabaré rolando solto
nas barracas. Há um ano, criou o BabauLengo – projeto de pesquisa com bonecos,
fonte de seu aprendizado sobre o fazer do teatro de bonecos popular e as
técnicas de manipulação, inter-relacionando o babau da Paraíba com o mamulengo
de Pernambuco. Um trabalho bonito de se ver e que deve num futuro próximo gerar
bons frutos para salvaguarda deste bem imaterial.
Bate-papo com Pedro Luiz - brincante popular |
Outra figura nos chamou atenção
desde à tarde quando ainda trabalhávamos na montagem: um senhor com um celular
potente registrando tudo em vídeo e com uma satisfação enorme no semblante. À
noite reapareceu todo equipado com tripé, fones de ouvido e câmera na mão.
Fomos investigar e descobrimos nada mais nada menos que o Seu Maurício, além de
admirador da arte bonequeira, foi ‘carregador de mala de bonecos’ entre 1976
até os anos 80. Na região de Juripiranga o Mestre Ezequiel fazia a alegria nas
zonas rurais e cidades vizinhas, quando armava sua tenda e fazia a brincadeira
acontecer desde a noite até amanhecer o dia. Contou-nos Seu Maurício que o
Benedito e sua namorada Maria Bucica brincavam e dançavam a noite toda ao som
da rabeca, triângulo e pandeiro dos tocadores que acompanhavam o mestre.
De carregador de mala Seu
Maurício hoje possui uma maletinha trancada a sete chaves, cuidadosamente guardada
no fundo de seu guarda-roupas e repleta de registros audiovisuais do babau,
ciranda, quadrilhas juninas e carnaval da região. Segundo ele, esse foi o
segundo registro de passagem da Cia Boca de Cena pela cidade que estará
guardado na sua maletinha. Tudo por prazer e admiração que tem pela cultura
popular! Lindo não?
Seu Maurício registrando tudo |
Mais de oito horas da noite e, depois
de um terço de espera, finalmente os espetáculos começaram. Junto com Mestre Clábio,
seus bonecos Birino, Valente, Dona Rita e Ventania arrebataram um público
gigante que se formou em via pública para contemplar a brincadeira. Logo após,
Coelho Banzé abriu espaço para Benedito, João Redondo, o boi azul, Rosinha, a
cobra Ana e as dançarinas de coco de roda agitarem a plateia infantil que ficou
ouriçada com as aventuras das passagens do espetáculo Tem Boi no Algodão.
Mestre Clébio e seu boneco durante apresentação |
Foi uma noite agradabilíssima na
qual tudo correu bem. Nossos agradecimentos vão para Cristiane, Osmar e Paizinha,
representantes da Prefeitura Municipal de Juripiranga e ONG Vida Mais Verde,
apoiadores do projeto, além do patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura – FIC
do Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Cultura.
A circulação continua; acompanhem
e aguardem mais informações!
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