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terça-feira, 31 de maio de 2016

A passagem de Benedito e João Redondo por Juripiranga foi linda de se viver

Em terras que já foram agraciadas com a presença de mestres bonequeiros, dificilmente a arte do babau passa despercebida. A Cia Boca de Cena retornou à cidade de Juripiranga pela terceira vez, só que com a inédita passagem do projeto com nome tão peculiar que, já na chegada ao local dos eventos fomos abordados pelos mais velhos com a pergunta: o nêgo Benedito vai tá aqui hoje né? Sentimos desde cedo que a expectativa era grande!
Chegamos à cidade, almoçamos, nos alojamos no Núcleo Espírita Joanna de Angelis para descanso e preparação, quando no meio da tarde seguimos para a rua ao lado da Igreja Matriz. Iniciamos o processo de montagem com organização das cadeiras, sistema de som, luz e empanada que seria o palco de nosso espetáculo. A noite caiu e logo nos deparamos com o convidado ilustre - o mestre bonequeiro mais elegante do estado, diretamente de Guarabira; mestre Clébio chegou e num instante organizou seus bonecos ventríloquos à frente da tenda.
Equipe da Cia saindo para iniciar os trabalhos
O público foi se achegando e recebemos a grata visita do brincante Pedro Luiz da Silva Filho que saiu de Pedras de Fogo para apreciar o projeto a fim de aprofundar sua pesquisa sobre o teatro de bonecos popular. Aos sete anos de idade iniciou seu contato com as artes através do projeto PETI com música, enveredou pelas brincadeiras populares com o projeto Movimento Cavalo Marinho e, pela identificação da dificuldade no repasse das culturas populares dos mais velhos, há pelo menos seis anos formou um grupo com jovens interessados em aprendê-las.
Dessa pesquisa, o jovem Pedro (hoje com 24 anos) entrou em contato com seu Zé Pequeno (mestre de babau da região), detentor de um acervo apurado com três malas de bonecos, e começaram a trabalhar juntos – Pedro tocando rabeca e o Babau de Zé Cabaré rolando solto nas barracas. Há um ano, criou o BabauLengo – projeto de pesquisa com bonecos, fonte de seu aprendizado sobre o fazer do teatro de bonecos popular e as técnicas de manipulação, inter-relacionando o babau da Paraíba com o mamulengo de Pernambuco. Um trabalho bonito de se ver e que deve num futuro próximo gerar bons frutos para salvaguarda deste bem imaterial.
Bate-papo com Pedro Luiz - brincante popular
Outra figura nos chamou atenção desde à tarde quando ainda trabalhávamos na montagem: um senhor com um celular potente registrando tudo em vídeo e com uma satisfação enorme no semblante. À noite reapareceu todo equipado com tripé, fones de ouvido e câmera na mão. Fomos investigar e descobrimos nada mais nada menos que o Seu Maurício, além de admirador da arte bonequeira, foi ‘carregador de mala de bonecos’ entre 1976 até os anos 80. Na região de Juripiranga o Mestre Ezequiel fazia a alegria nas zonas rurais e cidades vizinhas, quando armava sua tenda e fazia a brincadeira acontecer desde a noite até amanhecer o dia. Contou-nos Seu Maurício que o Benedito e sua namorada Maria Bucica brincavam e dançavam a noite toda ao som da rabeca, triângulo e pandeiro dos tocadores que acompanhavam o mestre.
De carregador de mala Seu Maurício hoje possui uma maletinha trancada a sete chaves, cuidadosamente guardada no fundo de seu guarda-roupas e repleta de registros audiovisuais do babau, ciranda, quadrilhas juninas e carnaval da região. Segundo ele, esse foi o segundo registro de passagem da Cia Boca de Cena pela cidade que estará guardado na sua maletinha. Tudo por prazer e admiração que tem pela cultura popular! Lindo não?
Seu Maurício registrando tudo
Mais de oito horas da noite e, depois de um terço de espera, finalmente os espetáculos começaram. Junto com Mestre Clábio, seus bonecos Birino, Valente, Dona Rita e Ventania arrebataram um público gigante que se formou em via pública para contemplar a brincadeira. Logo após, Coelho Banzé abriu espaço para Benedito, João Redondo, o boi azul, Rosinha, a cobra Ana e as dançarinas de coco de roda agitarem a plateia infantil que ficou ouriçada com as aventuras das passagens do espetáculo Tem Boi no Algodão.
Mestre Clébio e seu boneco durante apresentação
Foi uma noite agradabilíssima na qual tudo correu bem. Nossos agradecimentos vão para Cristiane, Osmar e Paizinha, representantes da Prefeitura Municipal de Juripiranga e ONG Vida Mais Verde, apoiadores do projeto, além do patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura – FIC do Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Cultura.

A circulação continua; acompanhem e aguardem mais informações!




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